Quando aprendi a ler

Aprendi a ler e escrever bem cedo. Eu tinha quatro anos e estava no jardim I, e minha turma tinha aula de manhã na mesma sala que o pré tinha aula à tarde, a diferença é que nós só aprendíamos a usar lápis de cor, enquanto eles aprendiam o alfabeto. Mas a sala era a mesma, recheada pintava e desenhava de acordo com o que a professora tinha mandado, e depois copiava o alfabeto no verso da folha.de murais contendo várias palavras, e um imenso alfabeto acima do quadro negro. Sendo assim, todo dia eu fazia a mesma coisa: pintava e desenhava de acordo com o que a professora tinha mandado, e depois copiava o alfabeto no verso da folha.

Assim passei o jardim I e o jardim II. Quando chegou a hora de entrar no pré, a diretora da escola chamou minha mãe para conversar. Ela disse que o objetivo principal do pré seria ensinar as crianças a ler e escrever, e, como eu já sabia, poderia pular direto para a primeira série. Nessa ocasião, minha mãe fez uma decisão muito sábia e me matriculou no pré, mesmo. Os motivos eram vários: eu era uma criança muito pequenininha e teria dificuldade em me adaptar; além de português, no pré eles também ensinavam matemática; eu já tinha amiguinhas na turma; etc.

O que mais me intriga nessa história não eram as opções que minha mãe teve, nem a escolha que fez, mas o fato de que isso mudaria minha vida completamente. Não é apenas uma questão de imaginar se eu teria me adaptado à primeira série, e sim o que viria depois disso. Eu teria participado de grupos diferentes, feito coisas diferentes, teria outros professores, outros amigos, talvez nem tivesse chegado a conhecer meu namorado! E, se na hora que saí do terceirão eu já estava confusa sobre qual carreira seguir, imagine se isso tivesse acontecido mais cedo!

É impossível saber se minha vida seria melhor ou pior do que é, mas não tenho a menor dúvida de que hoje eu seria outra pessoa. Talvez uma pessoa melhor, talvez uma pessoa pior. As possibilidades eram infinitas!

Eram tão infinitas quanto são hoje!