Os Poodles Extraterrestres

Os Poodles Extraterrestres

(por Karen Soarele)

Karen, você tem um cachorro?

Cachorro, não… Eu só tenho um poodle.

Poodle é um cachorro!

Não. Poodle não é um cachorro. Ele é um ser de uma dimensão paralela chamada Slador, que veio para a Terra com o objetivo de nos estudar e decidir se vão criar laços diplomáticos ou se preferem nos atacar e conquistar.

O único problema é que eles tem tido dificuldades para se comunicar conosco. Por exemplo, a Lindinha, que é a poodle que vive aqui em casa, tenta diariamente estabelecer uma comunicação racional, mas, infelizmente, os humanos não possuem a capacidade de entender. Veja só a cara que ela faz quando quer dizer alguma coisa:

A maioria dos humanos não entende, mas eu, sim, consigo captar as ondas mentais emitidas por Lindinha. Nesse momento, se ela pudesse articular as palavras como nós, com certeza diria: “Por favor, não me façam mais esse corte ridículo!” Continue Reading…

Texto de cinco minutos

Essa semana estive bastante ocupada. Além de trabalhar feito louca no lançamento de um novo projeto do meu estúdio, ocupei minhas noites fazendo o curso de oratória do Senac. “Receber uma história pela metade e ter que concluí-la é um exercício de criatividade delicioso”Aliás, é um curso ótimo! Eu indico para todo mundo que tiver interesse. Além de aprender algumas técnicas muito úteis sobre como falar em público, aprendi como posso controlar a ansiedade e fiz amizades incríveis!!

O professor nos propôs diversas atividades diferentes. Uma delas era o seguinte: ele ditava o início de uma história, cada um de nós tinha que concluí-la em cinco minutos, e em seguida ir ler sua versão ao microfone. Eu, particularmente, adoro essa construção coletiva de texto. Para mim, receber uma história pela metade e ter que concluí-la é um exercício de criatividade delicioso. Vejam como ficou:

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Conto: Torrente

Torrente

(por Karen Soarele)

Cenário de guerra. É assim que os jornais descrevem nossa cidade. Muros caídos, casas arrasadas, pontes em ruínas. À minha direita, uma árvore na posição horizontal exibe suas raízes recém-arrancadas da terra pela chuva violenta. O córrego corre furioso. Suas águas, muito mais altas do que de costume, exibem coloração marrom e retratam os desastres da noite anterior. Pedaços de lixo flutuante são arrastados ao bel-prazer da correnteza, e logo somem de vista.

O trânsito é caos, sempre é. Semáforos não funcionam e leis não mais existem. Um carro desvia de um buraco e cai numa poça, jorrando água para o alto e encharcando um pedestre, mas não se importa. Todos estão confusos, preocupados. Tentam garantir a segurança de sua família e bens, as suas coisas.

Mas eis que, no meio do caos, heróis surgem. Ouve-se o assovio de um apito, e todos os carros param. É um agente de trânsito. Um ser humano como você e como eu, cuja função é cuidar da segurança de todos, e todos respeitam esta função e obedecem às suas ordens. Ao som do apito, motoristas param e prosseguem, e o trânsito torna-se harmonioso. Jamais se inventará um semáforo automático tão bom quanto um ser humano.

Em uma região menos flagelada da cidade, o sinal vermelho impede que alguns carros se movimentem, enquanto outros cruzam seu caminho. Novamente, um som deixa todos em alerta, é o som de uma sirene. Os motoristas ouvem, param, identificam de que direção a ambulância vem e tomam providências.

Aqueles que estão cruzando ignoram o sinal verde e se atêm de prosseguir. Aqueles que estão parados, ignoram o sinal vermelho e cruzam, afastando-se para a lateral da rua, a fim de abrir passagem. Alguém pode estar morrendo naquela ambulância, não podemos atrapalhar!

Em meio à desorganização, instintivamente as pessoas se organizam e confiam naqueles que não querem nada senão ajudar. Mesmo em meio ao caos, à destruição e às dificuldades, a ajuda surge e as pessoas colaboram. Isso faz eu me lembrar que, apesar de tudo, ainda vivemos em sociedade, e que, amanhã, o Sol vai raiar.

Angélica

Angélica

(por Karen Soarele)

Parte 1

Ela passou por mim, e eu quis saber quem era. Quem era a responsável por aquele instante infinito, aquela palpitação inesperada. Era um andar de mulher com a leveza de uma criança. Devia ser esperta, decidida, pequena e leve. Seu ritmo expressava preocupação. Seu movimento gerou uma leve brisa, que trouxe um perfume fresco e energizante.

Passou por mim como um furacão, levando embora tudo o que eu pensava, sentia, sonhava. Ficou apenas a lembrança. Esperança, dúvida, ansiedade, silêncio. E eu apenas queria saber: Quem era?

– A Angélica? Ela não é lá aquelas coisas…

Apesar da resposta rude do meu colega, não desanimei. O que importava para ele certamente não importava para mim. Eu queria saber mais sobre a autora daqueles passos firmes e delicados. Élficos. Enigmáticos.

Angélica…

***

Parte 2

Passei a prestar atenção nela. Eu sempre sabia quando ela ia entrar na sala, muito antes dos demais. Podia ouvir seus passos no corredor. Mesmo que estivessem misturados aos passos de uma multidão, eu os reconhecia. Ela podia estar calma, alegre, nervosa ou apressada, não importava. Nem sua emoção conseguia disfarçar seus passos de mim.

Me aproximei aos poucos. No início tive que encarar o silêncio absoluto de quem se sente incomodado, mas com o tempo conquistei sua confiança.

E esperei o momento certo.

Esperei.

Esperei a hora perfeita.

A hora perfeita para colocá-la contra a parede, e dizer-lhe tudo o que eu queria, do jeito que eu queria e nas condições que eu queria. Não disse tudo o que eu sentia, certamente, pois iria assustá-la, mas disse tudo o que eu queria.

Então senti o ruborizar da pele quente de seu rosto. Apesar de não tocá-lo, eu podia sentir. Seu coração batia acelerado, e eu não precisava vê-la para saber para onde ela olhava. Olhava diretamente nos meus olhos, apesar de estar tímida. A reação que eu pedia.

Era uma mistura de medo, timidez e ansiedade em experimentar algo novo. E eu não hesitei. Fiz o que tinha de fazer. Toquei seus lábios com os meus, pela primeira vez.

***

Parte 3

O tempo passou, e ela permitiu que eu me aproximasse ainda mais. Após um lento início, ela abriu seu coração, e passou a depender de mim, e eu dela.

Ela não sabia, mas eu sabia me virar sozinho. Mas jamais diria isso a ela. Gostava que ela me ajudasse em tudo o que eu fazia. Sempre prestativa e proativa, orgulhava-se disso.

E o tempo passou.

E passou mais um pouco.

Nossas vidas seguiam um rumo único, e éramos felizes. Ela se tornou uma grande mulher, como tinha de ser. Eu fiz o que era possível para acompanhá-la em cada passo, e ela valorizava isso.

Até que cheguei ao ponto mais marcante de minha vida. Aquele que mudaria tudo. Aquele que me fez dividir minha vida em antes e depois. Havia muito tempo que eu não pensava nessa possibilidade, e quando ela bateu à minha porta, me senti ansioso e indefeso.

Mas ela estava lá, minha amada Angélica. Pronta para ser útil, pronta para me ajudar em tudo o que eu precisasse. Mais uma vez senti, com emoção, seus passos ao meu lado. Sempre contraditórios, eles se dividiam em decididos e vacilantes. Mas ela segurava minha mão, como se tentasse me passar toda a coragem de que dispunha, enquanto minha maca era guiada por mãos e passos mecânicos e sem emoção alguma.

Até que uma porta nos separou, e em seguida adormeci.

.

Sono sem sonhos. Foi como se eu tivesse apenas mudado o canal da TV. Após um segundo de silêncio, já havia me teleportado para um canal completamente diferente. Estava novamente na cama. Inconscientemente mexi os dedos, e foi suficiente para ouvir ao meu lado um pulo de alegria. Era ela. Eu não sabia há quanto tempo me esperava, mas não ousei perguntar.

Desenrolei a venda. E tive a experiência mais extraordinária de toda minha vida. Olhei em volta, para aquele ambiente claro. Olhei para ela. Angélica. Pessoa maravilhosa, companheira para todos os momentos. Agora eu sabia: Ela era também a mulher mais linda, maravilhosa, perfeita… que eu já tinha visto em toda a minha vida.

E com certeza eu jamais veria cena mais emocionante, mais bonita, do que aquela sua expressão que misturava alegria e preocupação, e seus olhos azuis fixos nos meus.

Nos abraçamos forte, e choramos lágrimas confusas. Lágrimas de alívio, alegria, emoção.

Mas sobretudo, lágrimas de amor.

*

Agora que você terminou de ler, me diga:
O que você entendeu deste meu conto?